Mag work por diop

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

visão horrível


visão horrível

eu vi uma muleta,
retorcida na berma,
à sombra do separador,
deitada ... sem dor !

mil pedaços espalhados,
de plásticos coloridos,
de vidros estilhaçados,
no negro do alcatrão !

eu vi um velho a chorar,
apoiado num camião,
na porta encarnada,
que ouvia o seu choro !

mais um e mais outro,
com piscas ligados,
um comboio sem fim,
de camiões encostados !

eu vi tantos bocados de chapa,
que atropelo com cuidado,
devagar quase parado,
nesta fila em que estou !

ouço sirenes ao longe ...
uma ambulância em sufoco,
abro espaço para ela passar,
em urgência ... em socorro !

eu não sei se quero ver,
o quadro que adivinho,
desenho mentalmente,
uma visão arrepiante !

devagar ... quase parado,
aproximo-me pensativo,
preparo-me para o pior,
um espectáculo grotesco !

vejo um monte de ferro,
com umas rodas atrás,
mastigado ... sem frente,
de vermelho disfarçado !

uma cabeça que mexe,
no banco de trás ...
abraçado ao da frente,
a algo ... não reconheço !

meio fora ... meio dentro,
não consigo determinar,
nesta amálgama de ferro,
encaracolado e distorcido !

eu não consigo olhar,
já começa a ser minha,
essa agonia que vejo,
nesse pedaço esmagado !

uma tristeza demoníaca,
bem estampada nas faces,
dos condutores que devagar,
lá passam ... sem parar !

e o medo ... e a revolta,
e a agonia ... e o desespero,
aqui estão todos misturados,
neste caldeirão de sentimentos !

é a realidade a mostrar-se,
assim ... a todos ... friamente,
sem medo revela a fronteira,
da verdade crua que espera !

dast

090115a1315A1N/S285/07

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