visão horrível
eu vi uma muleta,
retorcida na berma,
à sombra do separador,
deitada ... sem dor !
mil pedaços espalhados,
de plásticos coloridos,
de vidros estilhaçados,
no negro do alcatrão !
eu vi um velho a chorar,
apoiado num camião,
na porta encarnada,
que ouvia o seu choro !
mais um e mais outro,
com piscas ligados,
um comboio sem fim,
de camiões encostados !
eu vi tantos bocados de chapa,
que atropelo com cuidado,
devagar quase parado,
nesta fila em que estou !
ouço sirenes ao longe ...
uma ambulância em sufoco,
abro espaço para ela passar,
em urgência ... em socorro !
eu não sei se quero ver,
o quadro que adivinho,
desenho mentalmente,
uma visão arrepiante !
devagar ... quase parado,
aproximo-me pensativo,
preparo-me para o pior,
um espectáculo grotesco !
vejo um monte de ferro,
com umas rodas atrás,
mastigado ... sem frente,
de vermelho disfarçado !
uma cabeça que mexe,
no banco de trás ...
abraçado ao da frente,
a algo ... não reconheço !
meio fora ... meio dentro,
não consigo determinar,
nesta amálgama de ferro,
encaracolado e distorcido !
eu não consigo olhar,
já começa a ser minha,
essa agonia que vejo,
nesse pedaço esmagado !
uma tristeza demoníaca,
bem estampada nas faces,
dos condutores que devagar,
lá passam ... sem parar !
e o medo ... e a revolta,
e a agonia ... e o desespero,
aqui estão todos misturados,
neste caldeirão de sentimentos !
é a realidade a mostrar-se,
assim ... a todos ... friamente,
sem medo revela a fronteira,
da verdade crua que espera !
dast
090115a1315A1N/S285/07
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